segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Não menos importante do que a forma como eu descobri que eu estava com câncer, foi a forma como os meus pais descobriram. Depois de ouvir depoimentos das pessoas envolvidas, eu vou contar um pouquinho pra vocês do que se passava nos bastidores. Antes disso, gostaria de avisar à vocês, que vou omitir o nome de alguns "profissionais" que nós tivemos problemas... Vou divulgar apenas aqueles que são "de verdade" e tem compromisso com a profissão que exercem, e que foram anjos durante o meu tratamento. Todos aqueles que nos causaram algum mal, eu prefiro não citar. Aqueles que tiverem passando por algum problema semelhante e se interessar em saber quem são essas pessoas, é só entrar em contato comigo.

Meus pais têm uma loja de informática, que mais parece um formigueiro, lá acontece de tudo um pouco, de reuniões dos amigos do baba do fim de semana para montar o time à venda de maquiagens e é fácil surtar em uma tarde movimentada. Numa dessas tardes, o telefone que nunca para, toca mais uma vez e a atendente que fala pausadamente pede para falar com minha mãe. "Gostaria de falar com a Sra. Elílian... Sra. Elílian, o Dr. Dinossauro gostaria de falar com a senhora e o seu esposo sobre os exames de Rebecca Macêdo." O sangue fugiu das pernas, as mãos suaram e ficaram geladas... Porque bom (ou mal) motivo gostariam de falar pessoalmente sobre os meus exames? Quando os laudos saem, não temos apenas que buscar os resultados? A tarde demorou para terminar, e o botão do automático foi ligado. Formatações e manutenções já não prendiam a sua atenção.
Nove anos antes do incidente, quando eu fazia a 6ª série, estava na casa de Maria Fernanda quando uma amiga nos enviou um desses vídeos de susto, onde aparece uma imagem bizarra acompanhada de um grito alto. Estávamos mexendo no computador com a luz apagada e ao tomar o susto, tentamos levantar e sair correndo, mas a minha cadeira ficou presa na perna da mesa, e eu acabei caindo de lado, em cima do meu braço, o mesmo que agora eu sentia dores. Nanda gritava pra eu levantar, o barulho do computador não cessava, não conseguia enxergar nada e não consegui levantar de dor. Depois de uma segunda tentativa, enxerguei a cara de pânico de Nanda, quando eu me levantei e o meu braço ficou "pendurado". Nanda sempre teve pavor de machucados, ela tampava os olhos e gritava "corre amiga! vamos descer e falar com Ceiça! Ceiçaaaa! Ajuda aquiiii!" Descemos as escadas e corremos para a cozinha onde encontramos Ceiça preocupada com a nossa histeria.Depois de muita confusão e gritaria, amarramos uma fralda como tipoia e eu liguei para os meus pais que foram correndo me buscar para levar ao médico. Já eram 20:40 quando chegamos ao hospital, e depois de esperar um tempo na sala de espera, fomos direcionados ao Dr. Dinossauro (vou chamá-lo assim, por suas técnicas e conhecimentos pre-históricos) que pediu um raio-x para saber o que havia acontecido. Depois do exame realizado, voltamos a sala do Dr. Dino, que nos informou que não houve nada muito grave, foi apenas uma pequena luxação, e só seria necessário o uso de uma tipoia durante 45 dias. Mesmo não havendo nenhum problema aparente, ele pediu que realizássemos uma ressonância, para ver se estava tudo realmente bem. Na época eu não tinha plano de saúde e o exame custava R$ 980,00, uma médica amiga da família, nos orientou a não fazer o exame, pois seria desnecessário e o custo era muito elevado. Depois de 20 dias com a tipóia, a dor sumiu e completados os 45 dias, eu já conseguia movimenta-lo perfeitamente. Não fizemos o exame e Nanda deu um sermão na menina que enviou o susto.

Meus pais fecharam a loja e se dirigiram ao hospital que fica à umas 3 ou 4 quadras de distância, para falarem então com o Dr. Dino, eles não fazia ideia do iriam ouvir. Ao entrar na sala encontraram o Dr. Dino com uma feição séria, tentando parecer preocupado. Antes de qualquer esclarecimento, ele começou o discurso falando "Vocês têm fé em alguma coisa? Porque é melhor que tenham."  Que tipo de médico da uma notícia com essa introdução tão delicada? Acho que ele demorou o dia inteiro pensando em como ser sutil com a minha família. E continuou "O exame de ressonância da sua filha acusou um tumor no braço, pelo que eu analisei, é um tumor maligno, tem as características de um osteossarcoma, e o tratamento para esse tipo de tumor é amputação radical de membro, tem que desarticular." Lembrando que o Dr. Dino é ortopedista e não possui nenhuma especialização em oncologia, e esse super diagnóstico foi feito sem nenhum tipo de biópsia. É o super Dr. Dino, especialista em confortar famílias, obrigada Dr. Dino! Depois dessas informações, ele falou mais um monte de coisas, mas minha mãe não conseguiu ouvir mais nada, só via a sua boca mexendo sem conseguir absorver mais nenhuma informação, meu pai também não esboçava nenhuma reação, acho que o cérebro demora para processar esse tipo de coisa.

Eles saíram do médico e não tinham condições de ir para casa e olhar para mim sem fingir que nada aconteceu. Dirigiram em silêncio de volta para a loja, entraram e ficaram lá por um bom tempo. Se abraçaram e choraram sem acreditar no tinham ouvido. Quantos medos e incertezas passaram por suas cabeças, a sensação de impotência, quantos sonhos não seriam interrompidos, como eu iria reagir? Meu pai estava inconsolável quando sussurrou para minha mãe "Como minha filha vai casar? Onde vai colocar a aliança?" Todas as coisas pequenas agora tinham muito valor e eles pareciam engolidos por todas elas.





Os melhores que alguém poderia ter, que não fraquejaram e nem me deixaram fraquejar em nenhum momento.












Beijos, Rebecca.

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