quinta-feira, 10 de abril de 2014

Já haviam se passado 3 meses desde que apareceram os primeiros sinais de que havia algo errado comigo. E até então eu não sabia o que era de fato. Eu fui a "traída"... a última a saber. Foi uma traição do bem por parte dos meus pais e do meu namorado, porque eles não sabiam como eu ia encarar a situação, já que eu sou muito dengosa e bem geniosa às vezes.
O laboratório de análises clínicas de Salvador, para onde foi enviado o segundo bloco para análise da biópsia nos deu um prazo mínimo de 25 dias para entrega do resultado, e desde então todas as tardes eu ligava para minha mãe no trabalho em busca de respostas. "E ai mãe, ligou pra lá?!" "Mamy, e aí, o resultado chegou?" "Mãe, o que eles falaram? Qual a previsão?" "Mãe!! Não esquece de ligar pro laboratório!" Uma repetição digna de uma criança de 5 anos no banco do fundo de um carro disparando um "E aí, já chegamos? E agora? Já chegamos?". Coitada da minha mãe...
E a resposta dela era sempre a mesma: "Ainda não Becca, nenhum resultado... essas coisas demoram assim mesmo filha..."

Até que um dia em uma dessas ligações a resposta foi diferente, finalmente o resultado havia chegado. Eu já estava cansada de sentir tantas dores e de esperar por respostas que nunca vinham, que nunca me contavam. Liguei para minha mãe e ao invés de incorporar criança repetitiva, avisei que eu iria ao laboratório buscar o resultado. Eu queria pegar aquele papel e ler qual era a minha sorte afinal. O que pode ser de tão ruim? Minha mãe disse que não, que não era necessário, que ao sair do trabalho ela buscaria o laudo e levaria para casa, mas eu não suportava esperar até a noite, nem mais uma tarde, nem mais um segundo.
Vesti o único vestido floridinho que eu conseguia vestir sozinha e pedi à Yuri que me levasse até o laboratório. Acho que ele pensou em relutar, mas desistiu logo em seguida, acredito que ele não aguentava mais guardar aquele segredo.

Entramos no carro e ele dirigiu devagarzinho, eu não aguentava a trepidação forte do carro. Eu não senti medo no percurso, não me lembro de ter sentido o estômago embrulhar, nem as mãos suarem. Ele parou na porta do laboratório e nós descemos. Passamos pelas grades e entramos na recepção, o balcão ficava no meio da sala e atrás dele estavam duas moças uniformizadas com lencinhos no pescoço e com cara de "Eu odeio me maquiar para trabalhar". Solicitei o exame, entreguei meu documento e me sentei com Yuri nas cadeiras brancas da sala de espera, junto à outras pessoas que também estavam a espera de seus exames, a maioria delas, pessoas de idade. "Sra. Rebecca Macêdo!" e eu sai de lá com um envelope branquinho nas mãos... ele parecia tão inofensivo.

Entramos no carro novamente, Yuri não esboçou nenhuma reação. Só olhava pra mim, aflito, enquanto meus dedos arrancavam o adesivo e desdobravam a folha de papel. Ele já sabia a resposta da minha pergunta.

Desdobrei o papel e meus olhos correram pela folha cheia daquela linguagem técnica, que não me diziam nada. Até que no fim dela estava escrito o meu segredo:

Conclusão: Neoplasia maligna indiferenciada (tumor ósseo)





Beijos, Rebecca.

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