terça-feira, 30 de julho de 2013

Abri os olhos, mas demorei um pouquinho pra acordar de verdade. Estava na maca no canto do quarto. Meu namorado estava sentado numa cadeira do lado da cama e com a cabeça baixa como se estivesse deitado no meu colo.  Quando ele levantou a cabeça, reparei que havia alguma coisa diferente. Seus olhos. Eles tinham sido transformados pela mesma coisa que havia contaminado o olhar dos meus pais. A incerteza, o medo e uma angústia velada. Esbocei um sorriso amarelo de quem acaba de sair de uma anestesia, mas na verdade eu estava radiante por ele estar ali por perto, assim como minha mãe. No quarto estavam minha sogra e minhas concunhadas, Tia Lene, Mila e Isa, juntamente com Lana Sheila e Crisley, que tinham aparecido por lá depois de uma ligação desesperada do meu namorado. A outra maca estava ocupada por uma paciente idosa que também tinha passado por um procedimento cirúrgico.

 Algum tempo depois que eu estava acordada, notei o curativo grande e cheio de micropore no meu ombro esquerdo. Odeio micropore. Então, o efeito da anestesia começou a passar...e eu, que achava que sabia o que era dor nos dias anteriores, comecei a me contorcer do que de fato pode se chamar de dor! Não era pra menos, o dr. havia avisado pra minha mãe que o meu braço estava bastante fragilizado e que durante o procedimento ele havia o fraturado acidentalmente e que provavelmente eu sentiria muita dor, porque ele havia “mexido” bastante no local. Eu sacudia as pernas e pedia pelo amor de Deus um remédio pra parar de sentir aquilo. Meus tios Nivaldo e Lurdinha estavam na cidade e deram um pulinho no hospital para me visitar. Que sensação de impotência as pessoas devem ter sentido ao ver alguém se debatendo de dor e não poderem fazer nada. Sinceramente, eu não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. Não me lembro de muitos detalhes, mas passei um tempo delirando de dor. Até que uma enfermeira administrou uma boa dose de analgésico na minha veia. Me acalmei um pouco mais. Estava enjoada pela anestesia e por todo aquele tempo sem comer nada. Só queria ir pra casa. O remédio fez efeito, apaguei novamente.


No fim da tarde eu estava um pouco melhor, recebi alta e meu pai foi nos buscar no hospital.
Yuri, meu namorado, foi pra casa comigo e resolvemos que ele iria dormir por lá. Isso nunca tinha acontecido antes, afinal, meus avós maternos moram comigo e isso era uma coisa não cogitável, por respeito. Mas quem tá dodói pode quase tudo e a presença dele era um alento no meio daquele furacão. Fizemos um belo “cafofo” na sala com colchões, almofadas e cobertas. Meu estômago clamava por alguma coisa, de preferência muito gostosa! Optamos por pedir um yakissoba.
Minha sogra apareceu mais tarde para levar algumas roupas para Yuri e uma casinha feita de doces pra mim. Isa e Mila também foram com ela. A noite não trouxe muitas surpresas, mas também não trouxe um sono reparador. Na verdade, acho que o tal do “sono reparador” tirou férias por um bom tempo.



"Lindo é quando alguém escolhe pousar ao teu lado, podendo voar. Podendo encontrar até outros ninhos, outros caminhos, escolhe ficar."


Beijos, Rebecca.
sábado, 27 de julho de 2013

Não sei como meu namorado chegou tão rápido até o Centro Médico, acho que ele correu bastante de casa até la. Eu só queria um abraço e ficar quietinha, mas eu tinha que contar pra ele o que tinha acontecido.
Mas eu não sabia o que contar! Eu não sabia o que era! Contei o que o médico me falou, ou seja, quase nada, e depois... bom, depois eu tive colo e abraços daqueles que afastam qualquer tipo de coisa ruim.
Como é de costume, toda segunda-feira tem evangelho na casa do meu namorado e nessa segunda, lembro que a leitura teve algo relacionado ao propósito das coisas. Fiquei um pouco aflita naquela noite, mas não me lembro de ter dormido mal, acho que eu estava mais ansiosa por não saber como seria o procedimento do dia seguinte.
 Vocês podem achar que eu já tinha certeza do que eu estava passando, mas não... eu pensei em qualquer coisa, menos em câncer. Na maior parte das vezes procuro pensar sempre na melhor possibilidade, o que é bom pra diminuir o sofrimento antecipado, mas é muito ruim quando a situação toma outros rumos, porque gera frustração. A tal da expectativa é uma merd*.


Na manhã seguinte, pra variar, dei um pouco de trabalho pra levantar. Em jejum, vesti um vestido fresquinho rosa, embolei os cabelos e fui pro hospital com meus pais. Minha mãe ficou comigo e meu pai foi pro trabalho. Entramos na recepção do hospital e eu fui me sentar no sofá enquanto minha mãe dava entrada nos papeis e na autorização do plano de saúde. Ainda bem, porque eu odeio essas coisas. Me senti um pouco desconfortável ao perceber que eu era a pessoa mais nova naquela sala de espera, que tinha pelo menos umas 12 pessoas, na sua maioria velhinhos debilitados. “Porque eu? Não tenho nem 20 anos...” Fui até o balcão da recepção pra fazer a identificação biométrica e na volta peguei uma dessas revistas de sala de espera, que sempre é, no mínimo, de 6 meses atrás. Ana Maria gritava alguma coisa com Louro José na televisão, minha mãe tentava me distrair e meu estômago desejava aquelas receitas improprias pras 8:00 da matina. Que fome!
“Rebecca Macêdo!” a enfermeira chamou e nos levou pro primeiro leito do corredor que tinha duas macas, um sofazinho e um banheiro. Me entregou uma toalha e uma roupa verde-desbotado-estou-doente. “Quantas pessoas já vestiram essa roupa?”. Tomei um banho rápido, o chuveiro não esquentava muito. Quando sai, tinha uma outra mulher no quarto conversando com minha mãe, era a acompanhante de outra paciente que também estava aguardando a cirurgia. Finalmente meu namorado chegou, minha mãe fez uma trança embutida no cabelo embaraçado e uma nova enfermeira chegou ao quarto pra me acompanhar até a sala de cirurgia. Me despedi de todo mundo, com o coração apertadinho, é tão ruim ficar “sozinha” nessas horas... e segui pelos corredores. A enfermeira conversava comigo como se estivéssemos indo comprar pão. “Boa tentativa”. No meio do caminho uma médica deu uma bronca na enfermeira por não ter ajeitado a minha roupa-estou-doente, me deixando toda desajeitada, na tentativa de tampar o que interessa. Depois de um lacinho de cada lado da roupa, viramos mais uns dois corredores e chegamos ao centro cirúrgico, onde eu recebi uma touca e um par de propé.

A sala de cirurgia estava vazia, era enorme, escura e tinha uma parede que eram duas grandes portas de correr, toda em vidro, o que dava um pouco de iluminação. A enfermeira gentilmente me acomodou na maca e pediu pra esperar um pouco porque o dr. estava em outro procedimento. Fiquei sozinha na sala. Olhei ao redor, nada muito interessante, só gazes, bisturis, um suporte pra soro, um tanto de aparelhos e instrumentos cirúrgicos que eu não faço a menor ideia do nome e um relógio de parede. 15 minutos pareceram 2 horas. Um homem grisalho com uma feição doce entrou na sala. Era o anestesista. Ele conversou comigo com a voz baixinha, e disse pra eu não me preocupar que eles iriam cuidar bem de mim. Fiquei mais calma. Ele passou a mão nos meus cabelos e sorriu “Vou colocar uma musiquinha pra você”. Colocou uma música bem baixinha, gostosa de ouvir e que eu adoraria saber quem estava cantando. Deu outro sorriso e saiu da sala cantarolando, com certeza ele sabia quem cantava. Aquele relógio tinha parado, eu tinha certeza! A hora não passava. Alguns instantes depois o dr. entrou na sala e disse que não ia demorar, em seguida a enfermeira colocou o meu acesso com um sorinho. Eles conversavam entre si, me deixaram bem à vontade, colocaram meu braço esquerdo amarrado num suporte lateral, recomendei para tomarem cuidado. Até que chegou a minha parte preferida: a anestesia! Vocês podem até me chamar de noiada, mas eu adoro uma viagem anestésica. O anestesista foi administrando a droga devagarzinho. Fiquei tonta, leve e então dormi.



Churrasquinho dois dias antes da biópsia "cazamiga". Eu sei, só tenho amiga linda!


Beijos, Rebecca.



sexta-feira, 26 de julho de 2013

E assim os dias passaram... nada mudou, pelo menos pra mim. A dor no braço continuava, mas nada que me tirasse do sério. Mesmo com as dores que aumentavam cada vez mais, eu continuava curtindo as férias. Nossa, como eu amo as férias! Nesse período viajei com a família do meu namorado pra fazenda de uns amigos em Ibicoara, na Chapada Diamantina. A viagem foi maravilhosa! E eles foram anfitriões impecáveis... tio Zé Pimenta, tia Neide e família, muito obrigada pelo apoio, vocês são pessoas iluminadas!
Ainda na Chapada tive que tomar um analgésico, tive uma crise de rinite alérgica e os espirros judiavam do meu braço.

O que mudou de fato foram os meus pais, que me olhavam diferente, que sabiam de algo que eu não sabia. Que sorriam a angustia de guardar um segredo ruim, sem saber o que fazer com ele. Eles sempre foram muito carinhosos e nós sempre fomos muito amigos, mas aqueles olhinhos não mentiam pra mim. Tinha alguma coisa errada. Preferia acreditar que era só preocupação, afinal, o que podia haver de tão ruim com o meu ombro? Há 7 anos atrás eu tinha caído sobre ele e tinha sofrido uma luxação, mas 15 dias de tipoia foram suficientes para ele ficar bom. E nunca mais ele deu trabalho. Não deve ser nada demais. Ledo engano.

Uns dias depois minha mãe me levou na igreja a tarde, não tinha ninguém por lá, só o pastor... era tipo uma “consulta especial”. Fizemos algumas orações, conversamos um pouco e ele me perguntou que nota eu dava pra minha fé. Nota? Como assim? Soltei um 7,0... achei razoável. Ele deu uma risadinha e disse que mais pra frente nós conversaríamos e ele gostaria de saber se a minha nota tinha subido. Essa conversa tava começando a ficar estranha... por que tudo isso assim? Mais tarde eu teria uma consulta com um novo médico e as coisas poderiam ficar mais claras.
Às 18:30 de uma segunda-feira meus pais vieram me buscar pra consulta com o novo médico. Chegamos no prédio. Subimos o elevador. Meus pais estavam tensos, mas fingiam muito bem... a gente sempre fala besteira quando estamos juntos. Paramos em algum andar que eu não me lembro e fomos até o fim do corredor, tinha poucas pessoas na sala de espera. As duas secretárias sorriram e cumprimentaram meus pais como se já os conhecessem. Ué, vocês já estiveram aqui? E depois de alguns minutos me dei conta dos vários certificados pendurados nas paredes. Oncologia. Era essa a especialização do Dr. O que que eu estava fazendo ali pelamor?
Fomos anunciados e entramos na sala. O Dr. cumprimentou meus pais, de fato eles já tinham passado por ali, era a minha vez de saber o que estava acontecendo. Examinou o meu braço e então ligou a luz do negatoscópio e posicionou a ressonância para me mostrar o que ele chamou de “uma massa” no meu braço. Massa? Tipo um TUMOR? É isso? Tentando me acalmar ele disse que não tinha como saber se era maligno ou benigno... e pra isso nós teríamos que fazer uma biópsia na manhã seguinte. Ele pediu que eu me retirasse da sala pra que ele acertasse as coisas com meus pais, já que ele só atendia particular. Saí da sala sem esboçar nenhuma reação, acho que minha ficha tinha enganchado em algum lugar e não quis cair. Sentei no corredor e tentei raciocinar... em vão. Até que as duas atendentes vieram falar comigo com um chazinho e alguns biscoitos, falando coisas como “Fica tranquila, você vai ficar bem”. Gente, eu tô bem! Mas pela cara das duas parece que era pra eu estar preocupada... Achei melhor sair dali, desci no elevador enquanto tentava ligar pro meu namorado. Atende! Atende! E quando ele finalmente atendeu, eu não consegui falar... desabei no choro e soluçava sem conseguir soltar uma palavra sequer. Ele não entendia nada e ficou preocupado, pedindo pelo amor de Deus pra eu falar o que tinha acontecido... só consegui pedir pra ele me encontrar.


Curtindo a farm e fofocando. :)

Em cima: contemplando o "voz e violão" do amor, acompanhada de lencinhos de papel e tipoia.
Embaixo: Clube da Luluzinha x Clube do Bolinha.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Novembro de 2011, 10 matérias na faculdade, academia, correria, um amor distante, pensamento a 730 km de distância. Semana de provas, ansiedade, provas práticas e mais exercícios físicos. Férias! Uma dorzinha no braço. Corre, arruma a mala pra ver o amor! Sente o calor de Aracaju, mata a saudade, olha a dorzinha no braço de novo... não deve ser nada. Vai pra praia, arruma a casa... acho que eu machuquei esse braço na academia... continua doendo! “Amor, na vinda pra casa compra um salonpas pra mim?”. Festa, amigos, verão na capital sergipana, ansiedade pra voltar pra Bahia. Um filme cheio de preguiça num fim de tarde e um espirro que parecia ter arrancado meu braço fora. E a cada espirro a dor aumentava... tem alguma coisa errada.

Mas não deve ser nada grave, né? E também já é quase réveillon... mas acho que dá tempo fazer um raio-x. Arruma a mala novamente, vamos virar o ano na terra de Gabriela e Seu Nacib. Mais praia, mais sol, mais amigos, mais família, mais caranguejo, mais mar, mais mergulhos e... Ai! Mais dor... A canga virou tipoia.

Volta pra casa, desfaz a mala... “Becca, o resultado do seu raio-x chegou... amanhã tem revisão”. Acorda no outro dia, nem um pouco preocupada, afinal, deve ser só uma inflamaçãozinha. Toma banho, pega o secador pra secar os cabelos e então o secador despenca. O braço não suportou. Tem alguma coisa errada.

Alguns minutos na sala de espera e finalmente a secretária me acompanha até a sala do ortopedista. Ele examina o meu raio-x e me mostra o que parece ser uma mancha na cabeça do úmero (ombro), como se fosse osteoporose, mas peraí... eu estudava fisioterapia e sei que provavelmente não era osteoporose. Tem alguma coisa errada.

Alguns dias depois, retorno a clínica pra fazer a tal ressonância, meu braço já me incomodava bastante, já não conseguia mais levanta-lo normalmente. Tira tudo! Roupa, pulseiras, brincos, piercings... é quase um ritual... coloca aquela roupa que deixa sempre alguma coisa de fora e só existe na cor “verde-estou-doente”. Que sala gelada! O exame precisa de contraste e contraste precisa de um acesso bom, leia-se agulha grossa! O coleguinha coloca o acesso na minha veia, e aplica o tal contraste que dá uma sensação de calor dentro do corpo, especialmente nos países baixos, se é que me entendem. O exame é demorado... demora cerca de 40 minutos, é quase uma rave la dentro, um barulho muito alto apesar dos tampões de ouvido que eles te dão. O exame acaba e percebo que tinha algo errado no acesso, já que tem uma poça de sangue debaixo do meu braço... tudo bem. Eu retorno pra casa, sem a menor ideia do que estava me acontecendo e pouco preocupada com isso pra ser sincera. Mal sabia eu que essa era a primeira de muitas ressonâncias que eu iria fazer. 



 Viagens para Aracaju e Ilhéus. Amigos, família, amor... 
e a tal dorzinha que de "quando em vez" aparecia.



Beijos, Rebecca.

quarta-feira, 24 de julho de 2013
Não, esse não é um blog de moda! (pelo menos não por inteiro). Ainda tô um pouco confusa em como começa-lo, mas aqui é onde eu gostaria de contar um pouco de algumas coisas que aconteceram comigo antes, durante e depois da descoberta de um CA. E de como a vida pode ser bem melhor depois dele... acreditem!

Passei muito tempo pensando se deveria ou não escrever um blog, talvez por medo de muita exposição ou por preguiça mesmo e hoje me arrependo de não tê-lo começado durante o tratamento, quando as emoções estavam à flor da pele e eu estava vivenciando tudo aquilo... mas acho que nunca é tarde demais para começar algo que se deseja e que pode ajudar e motivar outras pessoas.
Como eu sou leiga no assunto, o blog vai começar bem feinho mesmo... mas prometo melhorar com o tempo! Espero que gostem!

Beijo, Rebecca.



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