sábado, 27 de julho de 2013

Não sei como meu namorado chegou tão rápido até o Centro Médico, acho que ele correu bastante de casa até la. Eu só queria um abraço e ficar quietinha, mas eu tinha que contar pra ele o que tinha acontecido.
Mas eu não sabia o que contar! Eu não sabia o que era! Contei o que o médico me falou, ou seja, quase nada, e depois... bom, depois eu tive colo e abraços daqueles que afastam qualquer tipo de coisa ruim.
Como é de costume, toda segunda-feira tem evangelho na casa do meu namorado e nessa segunda, lembro que a leitura teve algo relacionado ao propósito das coisas. Fiquei um pouco aflita naquela noite, mas não me lembro de ter dormido mal, acho que eu estava mais ansiosa por não saber como seria o procedimento do dia seguinte.
 Vocês podem achar que eu já tinha certeza do que eu estava passando, mas não... eu pensei em qualquer coisa, menos em câncer. Na maior parte das vezes procuro pensar sempre na melhor possibilidade, o que é bom pra diminuir o sofrimento antecipado, mas é muito ruim quando a situação toma outros rumos, porque gera frustração. A tal da expectativa é uma merd*.


Na manhã seguinte, pra variar, dei um pouco de trabalho pra levantar. Em jejum, vesti um vestido fresquinho rosa, embolei os cabelos e fui pro hospital com meus pais. Minha mãe ficou comigo e meu pai foi pro trabalho. Entramos na recepção do hospital e eu fui me sentar no sofá enquanto minha mãe dava entrada nos papeis e na autorização do plano de saúde. Ainda bem, porque eu odeio essas coisas. Me senti um pouco desconfortável ao perceber que eu era a pessoa mais nova naquela sala de espera, que tinha pelo menos umas 12 pessoas, na sua maioria velhinhos debilitados. “Porque eu? Não tenho nem 20 anos...” Fui até o balcão da recepção pra fazer a identificação biométrica e na volta peguei uma dessas revistas de sala de espera, que sempre é, no mínimo, de 6 meses atrás. Ana Maria gritava alguma coisa com Louro José na televisão, minha mãe tentava me distrair e meu estômago desejava aquelas receitas improprias pras 8:00 da matina. Que fome!
“Rebecca Macêdo!” a enfermeira chamou e nos levou pro primeiro leito do corredor que tinha duas macas, um sofazinho e um banheiro. Me entregou uma toalha e uma roupa verde-desbotado-estou-doente. “Quantas pessoas já vestiram essa roupa?”. Tomei um banho rápido, o chuveiro não esquentava muito. Quando sai, tinha uma outra mulher no quarto conversando com minha mãe, era a acompanhante de outra paciente que também estava aguardando a cirurgia. Finalmente meu namorado chegou, minha mãe fez uma trança embutida no cabelo embaraçado e uma nova enfermeira chegou ao quarto pra me acompanhar até a sala de cirurgia. Me despedi de todo mundo, com o coração apertadinho, é tão ruim ficar “sozinha” nessas horas... e segui pelos corredores. A enfermeira conversava comigo como se estivéssemos indo comprar pão. “Boa tentativa”. No meio do caminho uma médica deu uma bronca na enfermeira por não ter ajeitado a minha roupa-estou-doente, me deixando toda desajeitada, na tentativa de tampar o que interessa. Depois de um lacinho de cada lado da roupa, viramos mais uns dois corredores e chegamos ao centro cirúrgico, onde eu recebi uma touca e um par de propé.

A sala de cirurgia estava vazia, era enorme, escura e tinha uma parede que eram duas grandes portas de correr, toda em vidro, o que dava um pouco de iluminação. A enfermeira gentilmente me acomodou na maca e pediu pra esperar um pouco porque o dr. estava em outro procedimento. Fiquei sozinha na sala. Olhei ao redor, nada muito interessante, só gazes, bisturis, um suporte pra soro, um tanto de aparelhos e instrumentos cirúrgicos que eu não faço a menor ideia do nome e um relógio de parede. 15 minutos pareceram 2 horas. Um homem grisalho com uma feição doce entrou na sala. Era o anestesista. Ele conversou comigo com a voz baixinha, e disse pra eu não me preocupar que eles iriam cuidar bem de mim. Fiquei mais calma. Ele passou a mão nos meus cabelos e sorriu “Vou colocar uma musiquinha pra você”. Colocou uma música bem baixinha, gostosa de ouvir e que eu adoraria saber quem estava cantando. Deu outro sorriso e saiu da sala cantarolando, com certeza ele sabia quem cantava. Aquele relógio tinha parado, eu tinha certeza! A hora não passava. Alguns instantes depois o dr. entrou na sala e disse que não ia demorar, em seguida a enfermeira colocou o meu acesso com um sorinho. Eles conversavam entre si, me deixaram bem à vontade, colocaram meu braço esquerdo amarrado num suporte lateral, recomendei para tomarem cuidado. Até que chegou a minha parte preferida: a anestesia! Vocês podem até me chamar de noiada, mas eu adoro uma viagem anestésica. O anestesista foi administrando a droga devagarzinho. Fiquei tonta, leve e então dormi.



Churrasquinho dois dias antes da biópsia "cazamiga". Eu sei, só tenho amiga linda!


Beijos, Rebecca.



10 comentários:

  1. Becca!! Estou acompanhando cada postagem aqui.. Me emociona ver a força que vc tem!! Parabéns, seu relato com certeza ajuda muita gente, e a mim posso dizer que ajuda a entender melhor o que sente cada paciente que acompanho com situações parecidas. O que escreveu hoje me chamou atenção para aqueles pacientes que ficam sozinhos na sala de cirurgia aguardando alguém aparecer, me motiva ainda mais a ficar lá conversando, só para acalmar e diminuir a ansiedade mesmo.. Que bom que vc foi tratada com humanidade, acho isso uma das coisas mais importantes na profissão médica.

    Obrigado! Continue postando!! :D

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    1. Gabriel, interessante, o mesmo me chamou atenção. Rs A questão da humanização na saúde, acho que não só para a área médica como para toda equipe multiprofissional. Devemos todos estar envolvidos nesse processo. Que bom que a saúde ainda tem profissionais com os olhares voltados para esse contexto. Rebecca, mais uma vez, parabéns!!! Seu blog deve ser muito divulgado. Fiquem com Deus

      Valéria Marques

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Amei... podia ser duas postagens por dia... pq fico ansiosa... p saber o que vem no proximo...srsrrsrsrs :*

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  4. Estou acompanhando os relatos e fico imaginando como sua família é maravilhosa e contrita a Deus, pois com certeza, a aceitação desse desafio com sabedoria, ajudou muito a superar os momentos difíceis. bjs Beca

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  5. Becca,
    Sempre tive vontade de saber como tudo isso aconteceu, só nunca soube como conversar sobre o assunto com você.. sei lá, talvez por falta de oportunidade, ou até por timidez também por saber como é delicado o assunto.. Está sendo muito importante para mim ler essas publicações para entender melhor o lado das pessoas que passam pelo mesmo que você passou e tenho certeza que para eles também, pois os ensina a encarar o câncer com sabedoria e maturidade. Realmente, é emocionante ver o quão grande é a força que uma pequenininha como você tem! Parabéns pelo blog! Beijos

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  6. Quero ver os próximos... ;)

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  7. Falou a verdade, a melhor parte é a anestesia, viagem boa heheheheeh

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  8. Rsrsrsrsrs... viagem anestésica... é coisa legal mesmo. Concordo. Hihihih...
    Senti o carinho da Mamis daqui, com a trança embutida... Você são tão especiais. Sou fã do clã Macedo. Rsrs...
    Ansiosa pela próxima postagem... acordando toda grogue. Aposto. Rsrs.
    Bjoka

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  9. Rebecca, concordo contigo, realmente é mto bom fazer uma viagem anestésica... rsrsrs. Você é uma guerreira, fico aqui me perguntando, como pode um ser tão jovem, ser tão forte, sensível, determinada e ao mesmo tempo tão simples e generosa... Parabéns... tô adorando tudo isso aqui - é enriquecedor... Ansiosa tbém por proximo post! Bjinhus

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