terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Depois de dois meses sem postar, gostaria de vir aqui para contar coisas boas, continuar contando a minha história e ajudando pessoas que estão passando pelo que eu já passei, mas hoje vim aqui para me despedir.
No dia 22 de novembro fiz um pedido no Facebook, para que pessoas que estivessem em Salvador doassem sangue para ajudar um amiga querida que conheci durante o tratamento, a Carolina Portugal.
A Carol foi diagnosticada com osteossarcoma no fêmur, e aos 24 anos tinha acabado de se formar em Fisioterapia. Vou contar melhor a história dela mais pra frente, quando nossos caminhos se encontraram. Nova como eu, cursando o mesmo curso que eu, pequenininha como eu, uma mãezona como a minha, amigas maravilhosas como as minhas, pequenininha como eu, emburrada como eu, com o mesmo CA que eu... mas infelizmente nosso fim não foi o mesmo.
Começamos o tratamento na mesma época e terminamos quase na mesma época. Mas a Carol ficou dodói novamente. Ela teve recidiva do CA no pulmão e sentia muitas dores pelo corpo e voltou a fazer quimio esse ano. Ela já não estava mais confiante, chegou a falar comigo um dia que não sabia se iria ser curada e estava cada vez mais debilitada. Eu sempre tive certeza da cura dela e queria muito fazer alguma coisa para que ela voltasse a crer nisso também.
Até que duas semanas atrás recebi a notícia que ela estava bem fraquinha, precisando de sangue e que estava na semi UTI. Desde então não consegui mais falar com ela. Fizemos orações e conseguimos vários doadores de sangue através de um grupo de Haleyros que um tio meu participa e de alguns militares. Os familiares dela desativaram seu facebook e o contato ficou ainda mais difícil, só tinha notícias através de uma amiga dela, a Juliana Reis.
Ontem, ao chegar de viagem, minha mãe me disse que estava preocupada e queria notícias da Carol, vi que ela não olhava o Whatsapp há vários dias.
Hoje pela manhã, ao abrir o facebook, vi uma mensagem da Juliana que custei a acreditar, li algumas vezes e fiquei congelada. Não era possível. "Carol faleceu, o enterro será no jardim da saudade as 14 hrs! Hj dia 10/12!" Uma notícia como essa, nos faz repensar porque nós fomos agraciados com a cura e se nós realmente somos merecedores disso. A Carol era uma menina nova e cheia de planos assim como eu, não faz sentido que a luta dela tenha acabado, é difícil de acreditar. Agora que tudo passou pra mim, eu vejo o câncer como algo tão pequeno... mas as vezes ele ainda é tão cruel. Nós sempre queremos uma explicação, um motivo, um porque e eu espero que a Carolzinha não tenha se entregado, nem deixado de lutar e espero mais ainda que agora ela esteja em paz. Que o nosso Paizinho acalme o coração de tia Jô e de toda sua família. E que todo esse sofrimento dê lugar a saudade. Saudade minha amiga, vá com Deus. Luto.
Carolina Portugal


Com pesar, Rebecca.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A família do meu namorado é enorme. Daquelas bem espirituosas que reúne todo mundo no almoço do domingo, fala alto, dá muita risada e os nomes do amigo oculto do natal passam dos 50.
Imagina então como foi a comemoração do casamento do primogênito da considerada "matriarca", minha sogra.

Alguns dias antes da festa não se falava em outra coisa, a casa respirava os preparativos. Na minha casa o clima não era diferente, todo mundo ansioso para o grande dia de Mila e Breno. Provas de vestido, a escolha dos penteados e sapatos até me faziam esquecer dos meus dias dolorosos e eu tinha certeza que a comemoração ia fazer o meu confinamento virar "fichinha". Yuri continuava "morando" na minha casa, mas se ausentava com mais frequência para dar uma forcinha em casa e ensaiar a cerimônia, já que ele seria padrinho.

Nessa altura do campeonato eu já não ficava mais sem a tipoia, até para tomar banho era necessário amarrar uma gaze como suporte para o braço, mas depois de passar tanto tempo escolhendo o vestido a última coisa que eu queria era aquele "acessório" azul compondo o meu look. Passei a semana inteira pensando em alguma solução. Faltando dois dias para o casamento, a solução caiu de paraquedas... Depois de uma crise de dor, tomei uma injeção de Profenid que melhorou bastante a situação, resolvi que essa seria minha arma secreta para me livrar da tipoia.

O casamento foi planejado para ser realizado ao ar livre, num Rancho, e por isso o clima nublado dos últimos dias preocupou todo mundo.
 Ao acordar no sábado, 18 de fevereiro e ver aquele céu cinza, as orações por um solzinho começaram, ou para que pelo menos não chovesse. E a correria começou: escova cabelo, toma remédio, ajusta o vestido, bolsa de água quente, faz maquiagem, faz penteado, toma remédio, tira tipoia, segura o braço, coloca tipoia, passa base na cicatriz na biópsia para dar uma disfarçada.... e finalmente quando estava toda produzida, tomei a minha querida injeção de Profenid, aguardei alguns minutos e enfim tirar a tipoia e esticar o braço se tornou suportável.

No fim da tarde um grande alívio: céu aberto, pôr-do-sol e clima ameno. Obrigada Senhor! Entramos no carro, eu, minha mãe, meu pai,minha irmã mais nova e minha tipoia, melhor prevenir do que remediar, e seguimos a estrada que leva para o Rancho Uchôa. Senti um frio na barriga como se o dia fosse meu, ansiosa para ver a decoração, meu amor de padrinho e os noivos lindos.

A festa estava impecável. Decoração perfeita, clima maravilhoso, muitos convidados lindos e queridos, mesmo a cerimônia sendo realizada no feriado de carnaval. Abraços, cumprimentos, risinhos e ansiedade por toda parte. Volta e meia o braço dava uma fisgada e eu lembrava que alguém queria roubar a cena. Hoje não! 
Um silêncio pairou, os trompetes anunciaram a entrada da noiva. Os abraços entre sogros e noivos simbolizaram a união de uma família e foi impossível não me emocionar, alias, impossível qualquer um não se emocionar, dava pra sentir o amor de longe. Cerimônia rápida e lindíssima, acho que nunca vi um casamento tão lindo.

Lá pras tantas da noite, as comemorações começaram de fato. "A grande família" reunida, da pra imaginar né? Esqueci do meu braço egoísta só por alguns instantes e me permitir curtir aquele momento, dancei valsa com Yuri, um forró meio "capenga" com tio Gabriel, andei por todo lado, brindei, baguncei o penteado, minha mãe fez um novo improvisado, até que eu cansei e sentei no sofá ao lado do palco. Foi aí que a minha tipoia deveria ter entrado em cena.

Como eu disse a vocês, a família do meu namorado é bastante espirituosa, de abraços apertados, demorados e cheios de carinho. E no meio dessa minha reclusão dos últimos meses, eu fiquei sem ver muitos deles. Na minha pausa para descanso durante a festa, encontrei a querida tia Leide, que não sabia pelo que eu estava passando e também não poderia imaginar, afinal, eu estava em perfeito estado, nada de tipoias, nada de curativos. Foi aí eu recebi um abraço daqueles de urso, sabe? E eu acho que meu braço não é muito chegado em ursos... vai saber.

Parecia que alguma coisa tinha sido quebrada la dentro, ou o gigante adormecido foi acordado com panelas batendo em sua cabeça e ele estava muito, muito furioso! Meu braço doía tanto que eu não conseguia respirar direito... não pude nem gritar... ia deixar minha tia constrangida e ela não tinha culpa de nada. Corri a procura de alguém pra me socorrer, mas todo mundo sumiu, Yuri estava fazendo as honras da casa e eu não encontrava meus pais, me senti fraca e carente e meus olhos encheram d'água. Eu queria ir embora.

Finalmente achei minha mãe e eu queria chorar... fomos no carro e eu coloquei minha amiga tipoia. Comecei a "encher o saco" de Yuri, eu queria atenção. Mas logo depois eu parei, eu não tinha direito! Aquele era um dia importante pra ele, mas acho que eu estava triste por não poder curtir como eu gostaria. Passei o resto da noite com a tipoia e o meu braço reclamão querendo aparecer. Paciência querido, você vai ter que aguentar até o final!

Ficamos até o fim da festa, minha mãe não tirou os olhos de mim com medo que eu me machucasse novamente e quase amanhecendo viemos embora, com muitas risadas e algumas boas histórias. Meu sono com certeza não foi dos melhores, acho que meu braço quis me castigar severamente por tê-lo feito esperar tanto, mal sabia ele que a "festa" estava só começando.



Minhas princesas! Mamy e minha pequena.

Antes e depois da tipoia e meus queridos.

Noivos lindos!
Noivinhos, padrinhos e cunhadas.



Beijos, Rebecca.



quinta-feira, 19 de setembro de 2013

De volta a ativa! Não fiquem bravos comigo pela demora nas postagens, estava bastante atarefada esses dias mas já estou de volta.

Chegar de tipoia numa sala de aula cheia de estudantes de Fisioterapia é ter a certeza de ter que dar explicações para todo mundo, até quando nem você mesmo tem as explicações. Mas a volta às aulas é sempre bom e qualquer desculpa para sair de casa era suficiente.

Desci do carro e entrei na faculdade com a cara ainda amassada, acordar cedo nunca foi meu forte. Pra variar eu estava atrasada pra aula. Procurei pelo mural onde indicava a localização das salas e subi pro primeiro andar. Entrei na sala, abri um sorriso saudoso para os meus colegas e um dei "tchauzinho" especial para a minha trupe; Thaís, Priscila, Dani e Cris. Assisti a aula de Neuroanatomia torcendo para a aula terminar logo para colocarmos a conversa em dia. Quando finalmente o intervalo entre as aulas chegou, descemos para a cantina. Nas mesinhas de sempre, vi os olhinhos de Thai brilharem ao falar com seu sotaque inconfundível do vestido escolhido para o casamento no meio do próximo ano e pela procura da decoração perfeita, vi Pri com um sorriso de orelha a orelha contando que já tinha escolhido a data para o grande dia. Tia Dani falando da sua mãezinha que estava melhor e a nauseada e mais radiante de todas, Cris, que estava experimentando a realização de um sonho ao esperar o seu primeiro bebê. Contei das viagens, das férias e arranquei risadas das meninas como sempre com as minhas besteiras, mas tive medo de contar o que estava acontecendo.

Ao terminar o lanche fizemos o caminho de volta para a sala. Tantos meses sem ver tanto amigos da faculdade resultava em uma parada a cada dois passos para falar com alguém, um abraço meio sem jeito com um braço só, o receio das pessoas em machucar ao ver a tipoia, e claro, explicar para todas elas o que havia acontecido.

Depois de subir a escada no fim do corredor, antes de entrar na sala chamei as meninas. Contei o que havia se passado nos últimos dois meses, que eu havia sido submetida a uma biópsia e que tinha uma "massa" ainda não identificada no meu braço. A reação não poderia ser outra, olhos arregalados e silêncio. Todo mundo, de imediato, imaginava o que poderia ser. Não consegui terminar de falar, meus olhos encheram de lágrimas e minha voz ficou embargada. Recebi abraços e carinho. "Não vai ser nada amiga, fica tranquila."
Pela primeira vez eu senti medo do que estava por vir, a minha ficha ameaçava cair, mas eu insistia que não ia ser nada, que ia ficar tudo bem. Terminei de assistir a aula e aguardei meu pai me buscar.
Eu ainda não sabia, mas aquele foi o último dia que eu fui à faculdade como estudante de Fisioterapia e eu não imaginava o quanto eu ia sentir saudade daquelas pessoas, das manhãs cheias de risadas, das aulas nos laboratórios, das semanas de provas exaustivas, dos chiliques de Cris desesperada, dos puxões de orelha de Thai, dos exageros de Pri e das teimosias de Tia Dani, além do clima maravilhoso que a nossa sala tem, especialmente nas apresentações de Primeiros Socorros. rs Levei cada um deles comigo e espero que possa ter deixado um pouquinho de mim também.




Turma de fisioterapia.


Beijos, Rebecca.



sábado, 31 de agosto de 2013

O badalado fevereiro chegou e junto com ele veio o carnaval, o casamento de Breno e Mila, meu aniversário... tudo chegava, menos o resultado da biópsia.
Depois de alguns dias de espera pelo tal resultado, minha mãe recebeu uma ligação do laboratório dizendo que o resultado havia dado inconclusivo e que seria necessário encaminhar o material para Salvador para uma nova análise. Mais uma bola na trave.
Nessa altura do campeonato, minha mãe nem tinha cara para me falar mais nada... ela sabia o que estava se passando. Eu imagino o quanto doloroso era ficar escondendo aquilo e ainda ter que ficar me “iludindo” com toda aquela “inconclusão”, quando na verdade ela já sabia das células que planejavam fazer um motim contra mim. Ela nunca me falou que era, mas também nunca falou o que não era. O que estava ao nosso alcance, nós fizemos: Sentamos e esperamos. E a espera cansa e no meu caso, doía esperar, literalmente.

O cenário não era dos melhores... Fevereiro + Salvador = Carnaval. E carnaval na Bahia vocês já sabem como é. Nada funciona! “O ano só começa na Bahia depois do carnaval”. E Salvador meio que se arrasta até os trios elétricos passarem e assim os meus dias também se arrastavam.
Como se já não bastasse o marasmo pré-folia, o caos se instalou em nosso estado no dia 31 de janeiro, quando a Polícia Militar resolveu entrar em greve e assim permaneceu por cerca de 10 dias. Preciso dizer que durante esse período o laboratório em Salvador mal funcionou? “Nós estamos trabalhando de portas fechadas devido a greve, senhora. Não temos previsão de entrega dos resultados.” Era essa a explicação que era nos dada.  Numa hora dessas você tem certeza que algo conspira contra você.

O período da greve só tornou oficial a minha reclusão domiciliar, se já era difícil sair a la recém nascido, sem policiais nas ruas se tornou impossível.  Meus pais não deixavam eu colocar nem o nariz na porta de casa e não era pra menos.
Um dia, estávamos todos reunidos na sala assistindo um filme por volta das 23 hrs quando ouvimos 4 estalos secos vindo da rua. Boa coisa não era. Um silêncio pairou na sala e depois de alguns segundos fomos até a varanda verificar o que tinha acontecido. Um rapaz que mora no 10° andar do prédio na esquina da minha rua gritava da varanda “Mataram o menino!! Mataram o menino!! Olha gente! Atiraram no moleque e correram num carro prata!”. Como assim mataram um menino quase na minha rua? Uma das ruas mais movimentadas da cidade! Meu bairro não é perigoso, é um ótimo bairro pra se morar para falar a verdade, mas pensando bem... onde é que não está perigoso hoje em dia?

Ninguém teve coragem de ir na rua ver o que tinha acontecido. E agora? Recorrer a quem? Um tempo depois os homens da casa foram até a rua que fica perpendicular a nossa ver o que havia ocorrido. Apesar do perigo, já haviam algumas pessoas reunidas no local onde o corpo do menino de 15 anos estava estirado. Eles voltaram para casa com o relato do tal rapaz do 10° andar, que dizia que o menino estava na moto com outro garoto, quando um carro parou ao lado e disparou os tiros, em seguida surgiu um carro da policia militar na contra-mão e tentou encontrar o autor dos disparos, sem sucesso. No mínimo estranho essa situação, primeiro porque essa rua possui mão dupla o que torna muito arriscado a polícia ficar passeando por aí na contra-mão e segundo, a tal polícia não estava em greve? Como ela apareceu tão rápido depois de um assassinato tão improvável? Enfim...
Nos dias seguintes várias versões do mesmo caso surgiram, a primeira delas é que a polícia estava aproveitando o período da greve para fazer uma “limpeza” nas ruas sem levar a culpa, outra, foi a que houve vários acertos de contas entre pessoas envolvidas com tráfico de drogas nesse período e que o tal garoto estava no meio. Bom, nós nunca soubemos a real história, mas oramos todos os dias para que aquela greve acabasse.







Vandalismo no período da greve.

domingo, 18 de agosto de 2013

Janeiro e Fevereiro são uns dos meus meses favoritos. É verão, ano novo e carnaval. Viagens, férias e a cidade sempre está cheia dos amigos que estudam fora... sempre tem milhares de confraternizações, festas e reencontros. Mas em 2012 não foi bem assim.

Eu, que nunca paro quieta e adoro uma bagunça, me via todo dia naquele grande quarto que a minha sala tinha virado. Confesso que eu não era a melhor das companhias nessa época, com dor, enjoada e sem sair de casa, nem eu me aguentava em alguns desses dias. Às vezes rolava uma tentativa de comer fora de casa, mas nem sempre era bem sucedida. Sabe aquela grávida enjoada no nível 10? Era eu. Eu ficava imaginando coisas gostosas na tentativa de sentir vontade de comê-las, mas quase nunca funcionava.

Num domingo resolvemos almoçar numa churrascaria que eu adoro e eu tinha certeza que ia conseguir comer alguma coisa. Fizemos o pedido para o mesmo garçom que nos atendeu nos últimos 10 ou 12 anos e aguardamos. Atravessei a rua com a minha mãe e fui buscar um suco na delicatessen que fica em frente à churrascaria que só servia refrigerantes e nessa época eu já os havia abandonado.
Quem olhava na mesa ao lado não poderia fazer a menor ideia do que se passava naquela família, aliás, nem eu sabia ao certo. Nós éramos completamente normais. Afinal, não são assim que as pessoas com câncer são? Normais? Pelo menos deveriam ser...
O máximo que as pessoas poderiam notar de diferença era que eu usava uma tipoia e tinha um pequeno curativo no ombro esquerdo e os meus pais tinham um cuidado maior comigo, no mais era tudo igual, risadas, besteiras, planos e barriga roncando.
Enquanto esperávamos, passou o senhor com a dentadura engraçada que vende cocadas. Todo domingo ela passa por lá. Tenho certeza que qualquer dia desses a dentadura dele vai cair em cheio nas cocadas ou nos clientes! Rs Sempre fico ansiosa quando ele para na nossa mesa, vai que eu sou “A escolhida” pela dentadura? Vai saber, né?
As porções chegaram junto com o churrasco... Huuuum! Como eu amo churrasco! Mas aquele dia eu estava fazendo cara feia pra ele. Me servi e me esforcei pra comer alguma coisa. Malditos analgésicos que me deixam nauseada!  Primeira garfada, segunda garfada, terceira... e eu comecei a suar e ficar branca. “Mãe, eu não tô legal não...”. Corremos para o banheiro e eu passei mal, muito mal. Como é que coloca pra fora o que não se tem? Não tinha nada dentro do meu estômago, como é que ia sair alguma coisa? Comecei a ficar irritada com aquela situação. Voltei para a mesa e desejei profundamente a minha cama. Talvez algumas pessoas tivessem percebido que tinha alguma coisa errada então. Meu pai terminou de “beliscar” alguma coisa e nós voltamos para casa... ninguém terminou de almoçar. Tadinhos, eles estavam morrendo de fome.

Cheguei em casa com o dobro de fome e o dobro de dor. O esforço para colocar a não-comida para fora fez o meu braço doer mais. Quando é que isso ia passar? Pelo visto não tão cedo...
Já era fevereiro e não havia nem sinal do resultado da biópsia. Minhas aulas na faculdade tinham começado na quinta-feira, mas eu só fui na segunda. O restante do meu domingo de churrasco frustrado foi como os outros dias... família, casa, filmes, namorado e dengo. Pelo menos amanhã eu vou pra faculdade. Eu poderia até estar cansada daquilo tudo, mas hoje eu vejo como eu tive sorte e que eu não poderia estar cercada de pessoas melhores.



Esperando o churrasquinho!



Beijos, Rebecca.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Me perdoem por interromper a minha saga hoje, mas eu tinha começado a escrever sobre um determinado assunto e hoje, ao ler um outro blog, vi que tinham outras pessoas que compartilhavam da mesma opinião que eu e resolvi terminar de escrever.
Hoje a história é sobre a Pequena Sereia da novela das nove.

Bom, desde que Carminha deixou de pentelhar nas nossas telinhas (ôi, ôi, ôi!) eu nunca mais acompanhei uma novela. Na verdade, depois que as minhas internações deixaram de ser rotina, a televisão deixou de ficar ligada, pelo menos nos canais abertos.
Mas depois de tanto bafafá de raspa e não raspa eu procurei saber do que se tratava.
Eu não sei ao certo qual a história da novela, não sei quem escreveu e tive que assistir a cena da morte da Pequena Sereia no youtube pra ficar por dentro do assunto, então, me perdoem se eu me equivocar a respeito de alguma coisa, mas eu fiquei realmente com preguiça de pesquisar sobre isso.

1-      Sempre achei a Marina Ruy Barbosa linda, mas nunca achei que ela fosse uma boa atriz. Ela simplesmente não me convence. Mas ao saber que ela tinha topado fazer a “Carolina Dieckmann – o retorno” ela subiu no meu conceito e eu fiquei ansiosa para acompanhar a história. Mas essa vontade passou rapidinho ao assistir uns dois capítulos e vê-la com aquela cara de coitada e de “Tenham pena de mim”. Pufff! Que preguiça. Eu sabia que vinha merd* por ai. E isso logo se confirmou quando a Pequena Sereia deu pra trás na Operação Máquina 0.
Por que diabos essa menina aceitou fazer o papel? Com todo aquele discurso de atriz madura que estava “super preparada” para raspar os cabelos. Deu um passo pra frente e cinco pra trás. Era melhor ter ficado quietinha e não ter aceitado. Perdeu a oportunidade da vida dela.

2-      Eu amo o cabelo da Marina, ele é fantástico, mas amo menos do que eu amava o meu. E acredito que todas as mulheres que estão passando por um tratamento quimioterápico também amavam os seus cabelos. Agora uma pergunta: Alguém perguntou se nós queríamos raspar a nossa cabeça? NÃO! E isso não precisa ser perguntado, porque nós escolhemos viver. A coisa mais patética nisso tudo é essa inversão de valores da novela onde a estética vem antes da saúde. Pra mim, o mesmo acontece com o caso Angelina Jolie que escolheu a saúde ao invés da beleza. Mais ou menos né? Porque com certeza ela não “tirou” os seios e deixou um vazio lá... deve ter rolado uma recauchutada e ela continua diva, assim como diversas mulheres se submetem a uma mastectomia e optam por não colocar próteses e ainda assim continuam divas. Mas eu não vou entrar nessa discursão.

3-      Você sai da sua casa, troca a sua cama por uma maca de hospital, troca o seu conforto por agulhas e curativos, fica internada por dias e dias e muitas vezes está debilitada demais para se levantar e sabe qual é o seu passatempo? A televisão! Você linda, com toda a sua carequisse, liga no canal que mais bomba no nosso país e no horário nobre assiste a boa e velha novela. Aí você vê uma boneca de porcelana deprimida e devastada porque está com o mesmo problema que você: câncer. (Uau, que incentivo) Como se não bastasse, a Pequena Sereia resolve não raspar a cabeça porque vai ficar horrorosa. (Sem comentários) E pra terminar a cagada história: ela é corna, tem certeza que não tem chance de viver, se entrega a doença e finalmente morre. (Parabéns!) Qual o fundamento disso tudo? Só pode ser deprimir as pessoas! Não é bom, não é uma história bonita. Será que os imbecis autores que escreveram isso acharam de verdade que iam ajudar alguém? Será que eles tem ideia das milhares de pessoas que hoje estão se agarrando a um fiozinho sequer de esperança de que elas vão ficar boas? Será que eles sabem o que é uma reincidiva? Uma metástase? Será que sabem o que é achar que estão curadas e meses depois descobrirem que a maratona vai ter que recomeçar? Não... com certeza eles não sabiam! E se sabiam, são uns bons de uns filhos da puta sei lá o que. Não é só por quem está passando por isso hoje, é por seus familiares, por seus amigos que sofrem e torcem juntos.

4-      O câncer NÃO é uma sentença de morte! Não se iludam, nem se deprimam com essa mídia patética e que adora distorcer valores. O câncer é quase um retiro espiritual. Ele fortalece e nos mostra do que somos capazes e de como podemos ser fortes. Chega dessa síndrome de Sansão! Chega dessa palhaçada da Pequena Sereia da novela das nove. Cabelo cresce, acredite!

5-      Cheguei a ler alguns comentários defendendo a novela e falando que ela não morreu, que ela vai voltar, que a história vai ser linda.. blá, blá, blá! Acho muito improvável que alguém possa consertar essa novela. Como diz o ditado “Cocô, quanto mais mexe, mais fede.” Melhor deixar a ruiva morta mesmo... mas vamos ver.


Desculpa Marina, mas a minha história e a de milhares de carecas é muito mais bonita que a sua, e a gente nem precisa morrer no altar pra arrancar lágrimas de ninguém... O Walcyr foi realmente muito Carrasco com você!

(Assumo que pesquisei o nome do colhega.)

Beijos, da não mais careca, mas muito orgulhosa, Rebecca!



Muito amor pela minha careca!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Com o passar dos dias os analgésicos deixaram de ser suficientes e uma nova “amiga” passou a fazer parte dos meus dias: a bolsa térmica.
Depois da fratura acidental durante a biopsia, o tumor começou a crescer muito rápido e passou a comprimir meus nervos. A dor, que era inicialmente no ombro, passou a ser irradiada para o antebraço (músculo flexor ulnar do carpo e ancôneo) e dedos anelar e mínimo.

Amigos, antes de mais nada, gostaria de lembrar que eu não sou médica e compartilho a minha experiência com o intuito de ajudar as pessoas, mas não indico tratamento para ninguém... Por isso, por favor, antes de utilizar qualquer medicamento ou terapia, consulte o seu médico, cada caso é um caso e talvez o que foi bom pra mim, pode não ser o mais aconselhável para você, como é o caso do uso de bolsas térmicas.

“A termoterapia superficial é contra-indicada, quando aplicada diretamente sobre as áreas de tumor maligno. A vasodilatação provocada pelo calor superficial pode apresentar riscos na disseminação de células tumorais por via sanguínea e/ou linfática. Pelo mesmo motivo, estão contra-indicadas todas as formas de calor profundo (ondas curtas, ultra-som e laser), onde o aumento do metabolismo local gerado pelo calor pode disseminar as células tumorais  neoplásicas.”
Explicando de forma bem simples, não é recomendado fazer o uso de calor na região do tumor, porque a quantidade de sangue na região aumenta... Dessa forma, acaba “alimentando” o tumor, facilitando o seu crescimento e propagação pelo corpo.
“A crioterapia deve ser evitada onde não existe integridade sensorial, em casos de alergia ou intolerância ao frio, comprometimento arterial periférico, em casos onde o tumor compressivo pode estar causando diminuição da circulação local e em regiões de tratamento com radioterapia.”
Bom, no meu caso, eu tinha as duas contra-indicações, por ser um tumor e por ser compressivo, mas eu entrei em contato com o meu médico e ele liberou o uso da bolsa térmica apenas na região do antebraço.

A “querida” bolsinha passou a fazer parte de mim e as pessoas da minha casa faziam revezamento para esquentar a água. Ela foi usada tantas e tantas vezes que furou e mais tarde nós tivemos que comprar outra e quando a nova chegou, foi como se eu tivesse ganhado uma casa da barbie aos 6 anos de idade.
 Apenas água fervendo aliviava a minha dor. Eu só conseguia dormir agarrada a tal bolsa fervendo e no meio da noite, quando ela começava a esfriar, eu acordava. A casa toda passou a dormir mal, madrugadas em claro passaram a ser mais frequentes e sempre tinha alguém cochilando a beira do fogão. A cada duas ou três horas alguém levantava das cobertas quentinhas e cambaleava com a bolsa morna nas mãos e quando todos finalmente dormiam exaustos, eu ficava me sentindo mal em ter que acorda-los novamente, dai eu fazia uma forcinha e esquentava eu mesma. Era como ter um recém-nascido em casa. Sempre que saiamos, tinha que levar uma bolsinha com dezenas de remédios, tipóia, a bolsa térmica e uma canga de praia que eu havia comprado no Rio de Janeiro e dado a minha mãe de presente, mas na ocasião servia para envolver a bolsa térmica, para pelo menos não arrancar a minha pele fora! rs E a minha mãe, coitada, achando que já tinha duas filhas criadas em casa e que essa fase de fazer necessaire de bebê para levar para rua já tinha passado. Doce ilusão.
Mais tarde, essa bolsa me deixou marcas, no sentido literal da palavra.



A querida bolsa térmica

Flagrante de soneca rara

A canga que mudou de profissão. (Estampa maravilhosa, com certeza não foi por acaso!)



Beijo, Rebecca.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Acordei numa das piores fases do tratamento: não ter tratamento. Nos dias seguintes à biopsia, Yuri passou a “morar” na minha casa, só ia em casa trocar as roupas da mala ou quando eu conseguia pegar no sono ele dava uma fugidinha pra respirar. Mas ele não desgrudava... Minha sogra nem ligava pra reclamar... Obrigada tia! Nesse período, em alguma dessas tardes tediosas, ele desenterrou um joguinho de RPG com gráfico bem pobrinho, mas que roubava sua atenção... Harvest Moon, era uma fazendinha que ele tinha que cuidar e quando ele comprava um bichinho, eu que dava o nome. Eram duas vacas, Muxa, sua filha Mimi e um cachorro, chamado Mido. Assistimos centenas de filmes e eu tomei dezenas de comprimidos. Minha irmã Rachel e Melanie, minha cachorrinha, nos acompanhavam nessa saga.

Minhas amigas sempre apareciam na minha casa também, apesar de não saberem da gravidade do problema, elas sabiam que eu estava passando por uma situação delicada. As tardes para colocar as conversas em dia e fofocar bastante amenizavam o tédio e me arrancavam boas risadas.

O material recolhido na biopsia foi mandado no mesmo dia (24/01) para análise em um laboratório em Vitória da Conquista mesmo, com um prazo de 25 dias para a entrega do resultado, mas para mim o resultado da biopsia chegou de imediato, a dor sentida ao acordar da anestesia se estendeu por muitos e muitos dias.
 Os analgésicos potentes são bons até certo ponto, os efeitos colaterais deles são muito fortes e a dor passa a ser apenas mais um dos sintomas. Tontura, náuseas, ressecamento e vômitos se tornaram diários, além da dor, é claro! Passei a tomar doses cada vez maiores de Tylex e Codaten, que me causavam cada vez mais enjoo e assim eu tomava mais e mais Dramin e Plasil. Ficava sonolenta o dia inteiro, mas simplesmente não conseguia dormir, eram cochilos onde quer que eu encontrasse uma posição confortável. E um ciclo insuportável de comprimidos. Acordava, sentia dor, comia uma coisinha, tomava um Tylex, ficava enjoada, tomava um dramin, sentia sono, cochilava, acordava, sentia dor e o resto vocês já podem imaginar.


                                 
Em cima: Grude e vicío no joguinho.
Embaixo: Fazendo presepada no pós biopsia em casa e uma sonequinha rara.

Beijos, Rebecca.
terça-feira, 30 de julho de 2013

Abri os olhos, mas demorei um pouquinho pra acordar de verdade. Estava na maca no canto do quarto. Meu namorado estava sentado numa cadeira do lado da cama e com a cabeça baixa como se estivesse deitado no meu colo.  Quando ele levantou a cabeça, reparei que havia alguma coisa diferente. Seus olhos. Eles tinham sido transformados pela mesma coisa que havia contaminado o olhar dos meus pais. A incerteza, o medo e uma angústia velada. Esbocei um sorriso amarelo de quem acaba de sair de uma anestesia, mas na verdade eu estava radiante por ele estar ali por perto, assim como minha mãe. No quarto estavam minha sogra e minhas concunhadas, Tia Lene, Mila e Isa, juntamente com Lana Sheila e Crisley, que tinham aparecido por lá depois de uma ligação desesperada do meu namorado. A outra maca estava ocupada por uma paciente idosa que também tinha passado por um procedimento cirúrgico.

 Algum tempo depois que eu estava acordada, notei o curativo grande e cheio de micropore no meu ombro esquerdo. Odeio micropore. Então, o efeito da anestesia começou a passar...e eu, que achava que sabia o que era dor nos dias anteriores, comecei a me contorcer do que de fato pode se chamar de dor! Não era pra menos, o dr. havia avisado pra minha mãe que o meu braço estava bastante fragilizado e que durante o procedimento ele havia o fraturado acidentalmente e que provavelmente eu sentiria muita dor, porque ele havia “mexido” bastante no local. Eu sacudia as pernas e pedia pelo amor de Deus um remédio pra parar de sentir aquilo. Meus tios Nivaldo e Lurdinha estavam na cidade e deram um pulinho no hospital para me visitar. Que sensação de impotência as pessoas devem ter sentido ao ver alguém se debatendo de dor e não poderem fazer nada. Sinceramente, eu não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. Não me lembro de muitos detalhes, mas passei um tempo delirando de dor. Até que uma enfermeira administrou uma boa dose de analgésico na minha veia. Me acalmei um pouco mais. Estava enjoada pela anestesia e por todo aquele tempo sem comer nada. Só queria ir pra casa. O remédio fez efeito, apaguei novamente.


No fim da tarde eu estava um pouco melhor, recebi alta e meu pai foi nos buscar no hospital.
Yuri, meu namorado, foi pra casa comigo e resolvemos que ele iria dormir por lá. Isso nunca tinha acontecido antes, afinal, meus avós maternos moram comigo e isso era uma coisa não cogitável, por respeito. Mas quem tá dodói pode quase tudo e a presença dele era um alento no meio daquele furacão. Fizemos um belo “cafofo” na sala com colchões, almofadas e cobertas. Meu estômago clamava por alguma coisa, de preferência muito gostosa! Optamos por pedir um yakissoba.
Minha sogra apareceu mais tarde para levar algumas roupas para Yuri e uma casinha feita de doces pra mim. Isa e Mila também foram com ela. A noite não trouxe muitas surpresas, mas também não trouxe um sono reparador. Na verdade, acho que o tal do “sono reparador” tirou férias por um bom tempo.



"Lindo é quando alguém escolhe pousar ao teu lado, podendo voar. Podendo encontrar até outros ninhos, outros caminhos, escolhe ficar."


Beijos, Rebecca.
sábado, 27 de julho de 2013

Não sei como meu namorado chegou tão rápido até o Centro Médico, acho que ele correu bastante de casa até la. Eu só queria um abraço e ficar quietinha, mas eu tinha que contar pra ele o que tinha acontecido.
Mas eu não sabia o que contar! Eu não sabia o que era! Contei o que o médico me falou, ou seja, quase nada, e depois... bom, depois eu tive colo e abraços daqueles que afastam qualquer tipo de coisa ruim.
Como é de costume, toda segunda-feira tem evangelho na casa do meu namorado e nessa segunda, lembro que a leitura teve algo relacionado ao propósito das coisas. Fiquei um pouco aflita naquela noite, mas não me lembro de ter dormido mal, acho que eu estava mais ansiosa por não saber como seria o procedimento do dia seguinte.
 Vocês podem achar que eu já tinha certeza do que eu estava passando, mas não... eu pensei em qualquer coisa, menos em câncer. Na maior parte das vezes procuro pensar sempre na melhor possibilidade, o que é bom pra diminuir o sofrimento antecipado, mas é muito ruim quando a situação toma outros rumos, porque gera frustração. A tal da expectativa é uma merd*.


Na manhã seguinte, pra variar, dei um pouco de trabalho pra levantar. Em jejum, vesti um vestido fresquinho rosa, embolei os cabelos e fui pro hospital com meus pais. Minha mãe ficou comigo e meu pai foi pro trabalho. Entramos na recepção do hospital e eu fui me sentar no sofá enquanto minha mãe dava entrada nos papeis e na autorização do plano de saúde. Ainda bem, porque eu odeio essas coisas. Me senti um pouco desconfortável ao perceber que eu era a pessoa mais nova naquela sala de espera, que tinha pelo menos umas 12 pessoas, na sua maioria velhinhos debilitados. “Porque eu? Não tenho nem 20 anos...” Fui até o balcão da recepção pra fazer a identificação biométrica e na volta peguei uma dessas revistas de sala de espera, que sempre é, no mínimo, de 6 meses atrás. Ana Maria gritava alguma coisa com Louro José na televisão, minha mãe tentava me distrair e meu estômago desejava aquelas receitas improprias pras 8:00 da matina. Que fome!
“Rebecca Macêdo!” a enfermeira chamou e nos levou pro primeiro leito do corredor que tinha duas macas, um sofazinho e um banheiro. Me entregou uma toalha e uma roupa verde-desbotado-estou-doente. “Quantas pessoas já vestiram essa roupa?”. Tomei um banho rápido, o chuveiro não esquentava muito. Quando sai, tinha uma outra mulher no quarto conversando com minha mãe, era a acompanhante de outra paciente que também estava aguardando a cirurgia. Finalmente meu namorado chegou, minha mãe fez uma trança embutida no cabelo embaraçado e uma nova enfermeira chegou ao quarto pra me acompanhar até a sala de cirurgia. Me despedi de todo mundo, com o coração apertadinho, é tão ruim ficar “sozinha” nessas horas... e segui pelos corredores. A enfermeira conversava comigo como se estivéssemos indo comprar pão. “Boa tentativa”. No meio do caminho uma médica deu uma bronca na enfermeira por não ter ajeitado a minha roupa-estou-doente, me deixando toda desajeitada, na tentativa de tampar o que interessa. Depois de um lacinho de cada lado da roupa, viramos mais uns dois corredores e chegamos ao centro cirúrgico, onde eu recebi uma touca e um par de propé.

A sala de cirurgia estava vazia, era enorme, escura e tinha uma parede que eram duas grandes portas de correr, toda em vidro, o que dava um pouco de iluminação. A enfermeira gentilmente me acomodou na maca e pediu pra esperar um pouco porque o dr. estava em outro procedimento. Fiquei sozinha na sala. Olhei ao redor, nada muito interessante, só gazes, bisturis, um suporte pra soro, um tanto de aparelhos e instrumentos cirúrgicos que eu não faço a menor ideia do nome e um relógio de parede. 15 minutos pareceram 2 horas. Um homem grisalho com uma feição doce entrou na sala. Era o anestesista. Ele conversou comigo com a voz baixinha, e disse pra eu não me preocupar que eles iriam cuidar bem de mim. Fiquei mais calma. Ele passou a mão nos meus cabelos e sorriu “Vou colocar uma musiquinha pra você”. Colocou uma música bem baixinha, gostosa de ouvir e que eu adoraria saber quem estava cantando. Deu outro sorriso e saiu da sala cantarolando, com certeza ele sabia quem cantava. Aquele relógio tinha parado, eu tinha certeza! A hora não passava. Alguns instantes depois o dr. entrou na sala e disse que não ia demorar, em seguida a enfermeira colocou o meu acesso com um sorinho. Eles conversavam entre si, me deixaram bem à vontade, colocaram meu braço esquerdo amarrado num suporte lateral, recomendei para tomarem cuidado. Até que chegou a minha parte preferida: a anestesia! Vocês podem até me chamar de noiada, mas eu adoro uma viagem anestésica. O anestesista foi administrando a droga devagarzinho. Fiquei tonta, leve e então dormi.



Churrasquinho dois dias antes da biópsia "cazamiga". Eu sei, só tenho amiga linda!


Beijos, Rebecca.



sexta-feira, 26 de julho de 2013

E assim os dias passaram... nada mudou, pelo menos pra mim. A dor no braço continuava, mas nada que me tirasse do sério. Mesmo com as dores que aumentavam cada vez mais, eu continuava curtindo as férias. Nossa, como eu amo as férias! Nesse período viajei com a família do meu namorado pra fazenda de uns amigos em Ibicoara, na Chapada Diamantina. A viagem foi maravilhosa! E eles foram anfitriões impecáveis... tio Zé Pimenta, tia Neide e família, muito obrigada pelo apoio, vocês são pessoas iluminadas!
Ainda na Chapada tive que tomar um analgésico, tive uma crise de rinite alérgica e os espirros judiavam do meu braço.

O que mudou de fato foram os meus pais, que me olhavam diferente, que sabiam de algo que eu não sabia. Que sorriam a angustia de guardar um segredo ruim, sem saber o que fazer com ele. Eles sempre foram muito carinhosos e nós sempre fomos muito amigos, mas aqueles olhinhos não mentiam pra mim. Tinha alguma coisa errada. Preferia acreditar que era só preocupação, afinal, o que podia haver de tão ruim com o meu ombro? Há 7 anos atrás eu tinha caído sobre ele e tinha sofrido uma luxação, mas 15 dias de tipoia foram suficientes para ele ficar bom. E nunca mais ele deu trabalho. Não deve ser nada demais. Ledo engano.

Uns dias depois minha mãe me levou na igreja a tarde, não tinha ninguém por lá, só o pastor... era tipo uma “consulta especial”. Fizemos algumas orações, conversamos um pouco e ele me perguntou que nota eu dava pra minha fé. Nota? Como assim? Soltei um 7,0... achei razoável. Ele deu uma risadinha e disse que mais pra frente nós conversaríamos e ele gostaria de saber se a minha nota tinha subido. Essa conversa tava começando a ficar estranha... por que tudo isso assim? Mais tarde eu teria uma consulta com um novo médico e as coisas poderiam ficar mais claras.
Às 18:30 de uma segunda-feira meus pais vieram me buscar pra consulta com o novo médico. Chegamos no prédio. Subimos o elevador. Meus pais estavam tensos, mas fingiam muito bem... a gente sempre fala besteira quando estamos juntos. Paramos em algum andar que eu não me lembro e fomos até o fim do corredor, tinha poucas pessoas na sala de espera. As duas secretárias sorriram e cumprimentaram meus pais como se já os conhecessem. Ué, vocês já estiveram aqui? E depois de alguns minutos me dei conta dos vários certificados pendurados nas paredes. Oncologia. Era essa a especialização do Dr. O que que eu estava fazendo ali pelamor?
Fomos anunciados e entramos na sala. O Dr. cumprimentou meus pais, de fato eles já tinham passado por ali, era a minha vez de saber o que estava acontecendo. Examinou o meu braço e então ligou a luz do negatoscópio e posicionou a ressonância para me mostrar o que ele chamou de “uma massa” no meu braço. Massa? Tipo um TUMOR? É isso? Tentando me acalmar ele disse que não tinha como saber se era maligno ou benigno... e pra isso nós teríamos que fazer uma biópsia na manhã seguinte. Ele pediu que eu me retirasse da sala pra que ele acertasse as coisas com meus pais, já que ele só atendia particular. Saí da sala sem esboçar nenhuma reação, acho que minha ficha tinha enganchado em algum lugar e não quis cair. Sentei no corredor e tentei raciocinar... em vão. Até que as duas atendentes vieram falar comigo com um chazinho e alguns biscoitos, falando coisas como “Fica tranquila, você vai ficar bem”. Gente, eu tô bem! Mas pela cara das duas parece que era pra eu estar preocupada... Achei melhor sair dali, desci no elevador enquanto tentava ligar pro meu namorado. Atende! Atende! E quando ele finalmente atendeu, eu não consegui falar... desabei no choro e soluçava sem conseguir soltar uma palavra sequer. Ele não entendia nada e ficou preocupado, pedindo pelo amor de Deus pra eu falar o que tinha acontecido... só consegui pedir pra ele me encontrar.


Curtindo a farm e fofocando. :)

Em cima: contemplando o "voz e violão" do amor, acompanhada de lencinhos de papel e tipoia.
Embaixo: Clube da Luluzinha x Clube do Bolinha.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Novembro de 2011, 10 matérias na faculdade, academia, correria, um amor distante, pensamento a 730 km de distância. Semana de provas, ansiedade, provas práticas e mais exercícios físicos. Férias! Uma dorzinha no braço. Corre, arruma a mala pra ver o amor! Sente o calor de Aracaju, mata a saudade, olha a dorzinha no braço de novo... não deve ser nada. Vai pra praia, arruma a casa... acho que eu machuquei esse braço na academia... continua doendo! “Amor, na vinda pra casa compra um salonpas pra mim?”. Festa, amigos, verão na capital sergipana, ansiedade pra voltar pra Bahia. Um filme cheio de preguiça num fim de tarde e um espirro que parecia ter arrancado meu braço fora. E a cada espirro a dor aumentava... tem alguma coisa errada.

Mas não deve ser nada grave, né? E também já é quase réveillon... mas acho que dá tempo fazer um raio-x. Arruma a mala novamente, vamos virar o ano na terra de Gabriela e Seu Nacib. Mais praia, mais sol, mais amigos, mais família, mais caranguejo, mais mar, mais mergulhos e... Ai! Mais dor... A canga virou tipoia.

Volta pra casa, desfaz a mala... “Becca, o resultado do seu raio-x chegou... amanhã tem revisão”. Acorda no outro dia, nem um pouco preocupada, afinal, deve ser só uma inflamaçãozinha. Toma banho, pega o secador pra secar os cabelos e então o secador despenca. O braço não suportou. Tem alguma coisa errada.

Alguns minutos na sala de espera e finalmente a secretária me acompanha até a sala do ortopedista. Ele examina o meu raio-x e me mostra o que parece ser uma mancha na cabeça do úmero (ombro), como se fosse osteoporose, mas peraí... eu estudava fisioterapia e sei que provavelmente não era osteoporose. Tem alguma coisa errada.

Alguns dias depois, retorno a clínica pra fazer a tal ressonância, meu braço já me incomodava bastante, já não conseguia mais levanta-lo normalmente. Tira tudo! Roupa, pulseiras, brincos, piercings... é quase um ritual... coloca aquela roupa que deixa sempre alguma coisa de fora e só existe na cor “verde-estou-doente”. Que sala gelada! O exame precisa de contraste e contraste precisa de um acesso bom, leia-se agulha grossa! O coleguinha coloca o acesso na minha veia, e aplica o tal contraste que dá uma sensação de calor dentro do corpo, especialmente nos países baixos, se é que me entendem. O exame é demorado... demora cerca de 40 minutos, é quase uma rave la dentro, um barulho muito alto apesar dos tampões de ouvido que eles te dão. O exame acaba e percebo que tinha algo errado no acesso, já que tem uma poça de sangue debaixo do meu braço... tudo bem. Eu retorno pra casa, sem a menor ideia do que estava me acontecendo e pouco preocupada com isso pra ser sincera. Mal sabia eu que essa era a primeira de muitas ressonâncias que eu iria fazer. 



 Viagens para Aracaju e Ilhéus. Amigos, família, amor... 
e a tal dorzinha que de "quando em vez" aparecia.



Beijos, Rebecca.

quarta-feira, 24 de julho de 2013
Não, esse não é um blog de moda! (pelo menos não por inteiro). Ainda tô um pouco confusa em como começa-lo, mas aqui é onde eu gostaria de contar um pouco de algumas coisas que aconteceram comigo antes, durante e depois da descoberta de um CA. E de como a vida pode ser bem melhor depois dele... acreditem!

Passei muito tempo pensando se deveria ou não escrever um blog, talvez por medo de muita exposição ou por preguiça mesmo e hoje me arrependo de não tê-lo começado durante o tratamento, quando as emoções estavam à flor da pele e eu estava vivenciando tudo aquilo... mas acho que nunca é tarde demais para começar algo que se deseja e que pode ajudar e motivar outras pessoas.
Como eu sou leiga no assunto, o blog vai começar bem feinho mesmo... mas prometo melhorar com o tempo! Espero que gostem!

Beijo, Rebecca.



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