domingo, 18 de agosto de 2013

Janeiro e Fevereiro são uns dos meus meses favoritos. É verão, ano novo e carnaval. Viagens, férias e a cidade sempre está cheia dos amigos que estudam fora... sempre tem milhares de confraternizações, festas e reencontros. Mas em 2012 não foi bem assim.

Eu, que nunca paro quieta e adoro uma bagunça, me via todo dia naquele grande quarto que a minha sala tinha virado. Confesso que eu não era a melhor das companhias nessa época, com dor, enjoada e sem sair de casa, nem eu me aguentava em alguns desses dias. Às vezes rolava uma tentativa de comer fora de casa, mas nem sempre era bem sucedida. Sabe aquela grávida enjoada no nível 10? Era eu. Eu ficava imaginando coisas gostosas na tentativa de sentir vontade de comê-las, mas quase nunca funcionava.

Num domingo resolvemos almoçar numa churrascaria que eu adoro e eu tinha certeza que ia conseguir comer alguma coisa. Fizemos o pedido para o mesmo garçom que nos atendeu nos últimos 10 ou 12 anos e aguardamos. Atravessei a rua com a minha mãe e fui buscar um suco na delicatessen que fica em frente à churrascaria que só servia refrigerantes e nessa época eu já os havia abandonado.
Quem olhava na mesa ao lado não poderia fazer a menor ideia do que se passava naquela família, aliás, nem eu sabia ao certo. Nós éramos completamente normais. Afinal, não são assim que as pessoas com câncer são? Normais? Pelo menos deveriam ser...
O máximo que as pessoas poderiam notar de diferença era que eu usava uma tipoia e tinha um pequeno curativo no ombro esquerdo e os meus pais tinham um cuidado maior comigo, no mais era tudo igual, risadas, besteiras, planos e barriga roncando.
Enquanto esperávamos, passou o senhor com a dentadura engraçada que vende cocadas. Todo domingo ela passa por lá. Tenho certeza que qualquer dia desses a dentadura dele vai cair em cheio nas cocadas ou nos clientes! Rs Sempre fico ansiosa quando ele para na nossa mesa, vai que eu sou “A escolhida” pela dentadura? Vai saber, né?
As porções chegaram junto com o churrasco... Huuuum! Como eu amo churrasco! Mas aquele dia eu estava fazendo cara feia pra ele. Me servi e me esforcei pra comer alguma coisa. Malditos analgésicos que me deixam nauseada!  Primeira garfada, segunda garfada, terceira... e eu comecei a suar e ficar branca. “Mãe, eu não tô legal não...”. Corremos para o banheiro e eu passei mal, muito mal. Como é que coloca pra fora o que não se tem? Não tinha nada dentro do meu estômago, como é que ia sair alguma coisa? Comecei a ficar irritada com aquela situação. Voltei para a mesa e desejei profundamente a minha cama. Talvez algumas pessoas tivessem percebido que tinha alguma coisa errada então. Meu pai terminou de “beliscar” alguma coisa e nós voltamos para casa... ninguém terminou de almoçar. Tadinhos, eles estavam morrendo de fome.

Cheguei em casa com o dobro de fome e o dobro de dor. O esforço para colocar a não-comida para fora fez o meu braço doer mais. Quando é que isso ia passar? Pelo visto não tão cedo...
Já era fevereiro e não havia nem sinal do resultado da biópsia. Minhas aulas na faculdade tinham começado na quinta-feira, mas eu só fui na segunda. O restante do meu domingo de churrasco frustrado foi como os outros dias... família, casa, filmes, namorado e dengo. Pelo menos amanhã eu vou pra faculdade. Eu poderia até estar cansada daquilo tudo, mas hoje eu vejo como eu tive sorte e que eu não poderia estar cercada de pessoas melhores.



Esperando o churrasquinho!



Beijos, Rebecca.

7 comentários:

  1. Aquele seria o prenúncio das várias não-comidas colocadas pra fora..... ficou especialista, né Beca....como vc mesma diz..."melhor colocar pra fora do que fica enjoada".rrsrsrsr

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    1. ôô! E não foi? Acabei gostando da coisa... hahahaha <3 mamy!

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    2. Oi Rebeca! Vc não me conhece mas tenho acompanhado tua historia como se fosse minha. É, não é minha, até o dia de hoje, graças a Deus, só "vejo" o cancer nos outros mas sinto cada palavra sua como se fosse minha. Vc escreve e narra de um modo a nos compadecermos, não com sua doença, pq vc é muito mais do que ela, mas de nos compadecermos com cada momento vivido....com cada situação passada, com cada fato acontecido. te desejo muita luz, pq a vitoria vc já tem filha! Fica com Deus! Beijaooooo

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  2. Rebecca, acompanho suas postagens e fico admirada com a sua maturidade para encarar esta situação. Tão novinha e tendo que passar por tudo isso. Me lembro de você em Itambé... Uma das crianças mais lindas que já vi. Abraços!!

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  3. Rebecca, acompanho suas postagens e fico admirada com a sua maturidade para encarar esta situação. Tão novinha e tendo que passar por tudo isso. Me lembro de você em Itambé... Uma das crianças mais lindas que já vi. Abraços!!

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  4. Rebecca, fico ansiosa por cada post seu. Mesmo sem conhecê-la, admiro demais a sua perseverança.
    Acho incrível a sua coragem pra falar de uma coisa tão pessoal.

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  5. Olá Rebecca! Descobri seu blog através de um comentário seu em outro blog em um post sobre a Nicole da novela. Agora venho sempre aqui, ansiosa para ver outra postagem, você escreve muito bem! Parabéns pela perseverança e força que vc teve naqueles momentos tão difíceis.
    Aguardando o próximo post, abraços!

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